O primeiro homem, que era também o primeiro abokowo tinha dentro de si o universo inteiro que era, nesse tempo, uma unidade semelhante a um ovo luminoso. Um dia, o primeiro homem, ao ver-se reflectido no rio, dividiu-se em dois: um ficou com a língua, o outro com o paladar; um ficou com as melodias das canções, o outro com o ritmo dos tambores; um ficou com o vento, o outro com os cabelos a ondular; um ficou com os lagos, o outro com o reflexo da lua. Então, para os descendentes do primeiro Abokowo – que são todos os homens –, o mundo deixou de ser uma unidade para passar a ser um vaso de barro partido em bocados. 

Afonso Cruz

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