A minha alma é um barco, de madeira, onde embarcam pecados e saudade, tristeza e recados de vidas mortas, de vidas bêbadas e atribuladas. A minha alma é podre, mas tão podre que chega a assustar, é um tormento permanente, uma ferida aberta e constante, uma inteira labareda ardente de destino e azar e uma vasta labareda apagada de amor e sorte…
A minha alma está repleta de sonhos e ideias pintados a lápis de cor por gente que não nasceu e já está morta, vivendo em mim. Os meus sonhos são coloridos a preto, irreais, de variadas formas e odores, vivo neles e acordado neles vivo e de noite, quando o cansaço me permite dormir, sonho com os pesadelos das minhas tristemente dolorosas vivências dos meus dias! O meu viver, já por si, é irreversivelmente triste…
É um viver que enoja ao frustrado, digo meia dúzia de palavras de dicionário, um falar singelo e uma mentira que me assombra, a minha alma é um peso que nenhum ser alguma vez teve, é uma alma de pedra, confusa, atribulada, pronta e em alvorada e carregada de sonhos vividos por outros que nem conheço…
na obra “a nu” de Rui Sobral