Graças a Deus a gente é um ser pensante. E, por sermos pensantes conjecturamos a respeito de tudo, inclusive, de verdades que não entendemos, mas que são absolutas em nossa vida, e, ainda questionamos o porquê de tanta dualidade dentro em nós.
Há uma angústia que nos acompanha na nossa caminhada. Há a constatação de que não há plenitude de felicidade para este nosso viver. Há, também a constatação que todos os nossos anseios não cabem dentro de nosso viver.
Daí, portanto, esta fome de querer tanto e nunca se sentir saciado.
Temos sonhos, esperanças, e, é bom que os tenhamos. Mas, não podemos confiar que nesta vida, nesta existência terrena eles se realizarão.
Vivemos entre a possibilidade de vir a ter e a certeza de vir a morrer.
E a caminhada vai ser feita de qualquer forma, queiramos ou não, aceitemos esta verdade , ou não.
Eu sei querer tudo e tanto, mas no tamanho de minha existência não cabe tudo o que quero.
Por isso essa insatisfação permanente que acompanha a gente pela vida a fora, ou pela vida a dentro, não sei.
A incompletude do ser, da qual já se ocuparam artistas, filósofos, teólogos, escritores e até gente simples, que à sua maneira explicaram o que sentiram :” a felicidade não é desse mundo, e nem sei se há outro , onde ela deva existir “.
Vivemos esse paradoxo que nos acompanha a vida toda: preciso sonhar , tenho sonhos, mas poucos deles eu consigo realizar, ou muitos deles eu deixei de lado, por saber que eram inatingíveis. Entretanto, sei, por intuição e necessidade da minha alma, que não posso deixar de sonhá-los ou deixar que todos eles morram.
Vivemos entre a dialética de querer tanto e poder tão pouco.
Por que alguém tão cheio de amor, não consegue amar como deseja ou anseia?
Ou foi serceada na sua trajetória de amar com inteireza, por um corte inesperado, uma perda, uma ruptura fora de hora, pelo menos sob o nosso ponto de vista, fora da nossa hora, da hora que pretendíamos?
Como vamos administrar todas as perdas que sofremos de queridos nossos, ao longo desta vida , se nosso anseio maior é viver feliz com eles todos, por tempo enormemente esticado?
Pois é, a vida não é assim.
E, temos apenas uma escolha entre a certeza de nossa finitude e incapacidade de realizar todos os sonhos e a esperança que um dia, numa outra dimensão eterna, religados ao que o Eterno sonhou , Ele próprio , para nós- então, entre essas duas pontas temos a opção de amar.
Nunca saciaremos nossa total fome de sonhos e de amor.
Mas, certamente , esta escolha é o que nos levará mais perto da felicidade que tanto queremos e buscamos e onde temos sonhos e anseios que não cabem dentro de nossa finitude e impossibilidade de realizá- los.
O amor é quando Deus está conosco.
Isto nos isentará de sofrimentos? Não. Sinto muito, mas é não mesmo!
Amar significa dor, doação, angústia e perda possível em meio a momentos de alegria , paz e plenitude.
Há uma saudade que não sabemos definir de onde vem e porque. Um vazio que nunca preenchemos, um medo que nos acompanha, uma solidão que é só nossa e não conseguimos compartilhar, nem dividir, nem explicitar mesmo com quem mais amamos. Porque é unicamente parte da nossa alma e não da alma do outro, seja ele quem for e tão próximo quanto seja ou esteja.
Mas , para administrarmos a falta de tantas coisas que queremos, a saudade de tanta gente, ou, coisas que já perdemos, a vontade de viver o que ainda não conseguimos, só há uma saída- abrirmos nosso coração para o amor.
Pelo amor virá a compreensão, a misericórdia, a bondade, a esperança,a aceitação, mesmo que nunca alcancemos o que esperamos.
E. é nesse abrir do coração repletos de sonhos que Deus vem habitar, e nos leva pela mão na dura caminhada.
Então poderei dizer: Entre Deus e a eternidade seja ela onde for e como for, pra onde nosso espírito irá, e a possibilidade da morte, está a vida onde podemos amar.
Eu sofri, eu chorei, eu perdi, mas eu amei! Isto é pouco? Sim, é pouco, para quem quis tanto, sonhou tanto, esperou tanto.
É pouco, mas é o melhor que teremos nesta existência. Então, deixa de ser pouco: para se tornar muito. É muito! Mas nunca será o suficiente.
Sem amor, ninguém atravessa a vida completamente, inteiramente, esperançosamente, alegremente. Apesar de , e não por causa de.
Onde está Deus? Não é esta a pergunta. Mas . sim: `Quando está Deus?
Deus está conosco quando amamos, apesar dos sofrimentos, apesar das perdas, apesar das aflições.
Deus é amor! Longe do amor não temos Deus , e, longe de Deus não temos amor.
Ercília Pollice
Campinas 05/04/2014
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