Dois sociólogos habituados a suspeitar de explicações fatalistas para os fenómenos sociais complexos e a duvidar de quem propõe respostas individualistas para problemas coletivos, como o desemprego e a precaridade. Juntos aqui para questionar o empreendedorismo como resposta à crise de emprego.
Sabia que a totalidade das medidas de apoio ao empreendedorismo, nas quais foram investidas centenas de milhões de euros, chegaram apenas a 1% dos desempregados oficialmente inscritos?
Sabia que os países onde há taxas mais elevadas de autoemprego não são os países com economias mais inovadoras, mas sim onde há mais pobreza, como o Vietname ou o Bangladesh?
Sabia que a herança, e não o mérito e o esforço individual, tem um peso cada vez maior na acumulação de riqueza na nossa sociedade, ao contrário do que sugere o discurso do empreendedorismo?
Nos últimos anos, o empreendedorismo tem-se apresentado como a saída para a crise do emprego. Multiplicaram-se programas públicos de apoio e promoção do empreendedorismo. O tema entrou nos currículos de todos os níveis de ensino, havendo até workshops de «empreendedorismo para bebés». O «espírito do empreendedorismo» foi acolhido nas políticas sociais e desenvolveu-se uma rede de instituições, plataformas e encontros destinados a disseminá-lo. Neste livro, dá-se conta deste processo, dos mitos que lhe estão associados e dos resultados concretos alcançados.
Sobre o objetivo deste livro (da Introdução)
Trata-se, sim, de fazer uma crítica séria e fundamentada da narrativa hegemónica do empreendorismo, da sua racionalidade tendencialmente totalitária e do projeto político que lhe está subjacente. Ao fazê-lo, pretendemos também contribuir para que se reabilitem outras racionalidades, se construam outras narrativas e se busquem outros projetos, fundados sobre uma ideia do humano em que a cooperação, a partilha, o planeamento coletivo e democrático e a escolha política se sobreponham à lógica autoritária da competição individual.
Adriano Campos. 31 anos. Doutorando em Sociologia do Trabalho pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Membro do Conselho de Redação da revista Vírus e da Direção da Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis.
José Soeiro. 31 anos. Sociólogo. Doutorado em Sociologia do Trabalho pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Ativista do Teatro do Oprimido. É coautor, entre outros, dos livros Não Acredite em Tudo o que Pensa (Tinta-da-china, 2013), Ideologias Políticas Contemporâneas (Almedina, 2013), e Trabalho, Juventude e Precariedade (Praxis, 2012). É deputado à Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda.
Nota de Imprensa Bertrand Editora.
978-972-25-3222-8_A Falacia do Empreendedorismo