UM OVO DE AVESTRUZ (Como as baratas que conhecem as trilhas do escuro) Folhetim em Setenta e Seis Episódios da autoria de Carlos Pessoa Rosa. Trigésimo oitavo Episódio

CAPÍTULO VII

Canto terceiro

Saio da loja. Encontro a parceira diante de uma vitrina. Ela sorri tão logo me vê. Aguarda-me. Mas, ao me aproximar, entra na loja e se perde na multidão. Fico parado, extremamente angustiado. Sensação de perder algo muito querido. Não demora, ela sai com dois jovens: um deles, alto, vestindo um blusão vermelho e mochila da mesma cor; outro, de cor mais cáqui, vestido de igual modo. Os três saem abraçados e caminham juntos. Eu atrás… No cruzamento, ela se separa dos jovens. Carrega uma expressão estranha no rosto. Talvez a de quem tenha usado droga e passado a noite em claro. Nos olhamos. Não há diálogo. Caminhamos juntos. Paramos em uma esquina. Penso no tempo em que juntos nunca nos falamos de verdade. Acordados, tornávamos insuportáveis um ao outro, dois estranhos que de comum só o orgasmo.

 

(continua)

Carlos Pessoa Rosa

Share
Published by
Carlos Pessoa Rosa

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago