Amâncio-casado-pai-de-dois-filhos. Mãos de dedos longos, longa mão. Linhas forasteiras cavadas no deserto do rosto. Pelado de palavras; soltas palavras que nada exigem da vida: Deus, obrigado, sim-senhor… Lavras e sol na pá de todo o dia, puxou lixo, terra vermelha e a família. Chegaram juntos. Tiras de teimosia. Nem acreditava, mas tinha calos de lembranças.
O filho mais velho em tudo igual ao pai, pelado também tinha uma pinta bem naquele lugar que pobre tem vergonha de dizer, e pobre tem tanto e não diz!, terra seca de tudo, até de palavras. O mais jovem é atirador profissional, carrega vagas de crimes nos olhos vitrificados. Amâncio-casado-pai-de-dois-filhos lembra bem quando a criança abriu o olhinho pela primeira vez nas águas da vida; fez que não queria e agora… Vitrificado pela droga, nada na marginalidade e espelha sombras da morte. Sabe tudo de leis; assalta mas quem atira é sempre o menor. Se aprendeu a ler, foi motivado pelo código penal; sabe mais da vida que advogado, que promotor e até juiz.
(continua)
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