Tenho o olhar no desastre causado pelos insetos. A ira transformou-se em pedra. Meu silêncio é um rio de palavras em direção ao nada. O olhar recusa o campanário. Vê dentro. Vive o sangue coagulado na pedra. Caminha nas dobras e nos brotamentos que saem dos interstícios da matéria bruta. Não me pertence a natureza ao redor. Irrita-me o ruído ensurdecedor dos gafanhotos. Traz-me à memória, como ao combatente os cadáveres, a expressão infértil da terra, dos esqueletos de vinhas e figueiras. Qual o papel de um profeta, Senhor, se nenhum dos avisos foi ouvido? Olhando ao redor, tudo retornou. Mesmo o homem com sua embriaguez, surdez e cegueira. Já não há mais tristeza ou luto pela perda, mas festejos à sorte dos que sobrevivem. Hoje, morre-se de fome, apesar de os campos fartos. Os fazendeiros tomam vinho como se fosse o sangue e o suor de bóias-frias.
(continua)
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