Enfiou a cabeça na água e deixou-a escorrer nos cabelos, relaxar o corpo e aquecer o objeto de trabalho. Arrepiou-se ao lembrar que o estrangeiro que, como ela, gostava de Astor foi o único homem que a fez atingir o orgasmo com tamanha intensidade. Até que não cobrou muito pelo que fez, podia ter levado tudo, sentir-se mulher não tinha preço. Ficou um bom tempo deitada na banheira. Não demoraria para a noite chegar. As amigas já deviam saber que algo de errado havia ocorrido com o santo protetor. Aparecia à tarde, quando as meninas estavam descansadas, para levar a porcentagem, cobrar a droga e deixar o troco sempre minguado. Ser a preferida dos fregueses deu-lhe algum privilégio. Arranjar o pequeno apartamento a seu gosto, por exemplo. Ele não admitia cliente fixo, dizia que podia estragar o negócio. Se achasse inadequada alguma conduta com freguês ou houvesse excesso de pó, o sermão era bravo. Nunca deixou protegida sua na mão, a não ser por merecimento. Pagou o aborto sem saber que o filho era dele. Até o nariz, um pouco arrebitado, igualzinho ao dele.
(continua)