A água descia pelo amorenado da mulher e desaparecia no ralo. Não lavava as idéias, nem levava os restos do prazer que ficaram. Por que ficar perfumada se não havia decidido a ficar? A sensação de ter renascido dele não a perturbava, a submissão nunca foi sua companheira mas agora, estranhamente, a aceitava. Caso exigisse, cozinharia e costuraria para ele, colocaria o chinelo para quando chegasse cansado do serviço, ouviria os problemas dele, sem contar os seus. A toalha enrolada no corpo acentuou os ombros e o longo pescoço. Os cabelos molhados e escorridos devolveram a verdadeira importância da testa, acentuaram o branco dos olhos. Apreciava as sombras do rosto, compreendia a sensualidade das mãos do Aleijadinho, eram as mãos de Deus. Preocupava-a o passar rápido das horas, cicatrizes na alma não faltavam, daí a tendência de evitar novas aventuras.
(continua)
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