Entre Outubro de 2010 e Dezembro de 2011, o site PNETliteratura e o Centro Nacional de Cultura levaram a efeito um balanço literário da primeira década do século.
Durante este ciclo tiveram lugar as seguintes conferências: “A expressão literária como esteio da lusofonia” por Guilherme de Oliveira Martins, “O romance português” por Miguel Real, “O romance brasileiro” por Maria Aparecida Ribeiro, “A poesia do século XXI em Português” por António Carlos Cortez, “Os desafios da tradução” por Maria do Carmo Figueira, “O papel da crítica literária” por José Mário Silva, “A Literatura na África lusófona” por Ana Paula Tavares, “O acordo ortográfico e a literatura no espaço lusófono” por Vasco Graça Moura, “A ilusão (da) crítica: os estudos literários africanos e a ordem eurocêntrica” por Inocência Mata e, por fim, “O mundo editorial na primeira década do século” por Jorge-Reis Sá. Sem cariz massificado, mas mobilizando públicos significativos e interessados, o balanço literário da primeira década do século foi um sucesso.
O encerramento do ciclo foi marcado por uma mesa redonda que teve lugar, no passado dia 15 de Dezembro, e que contou com a presença de Miguel Real, Jorge Reis-Sá, António Carlos Cortez, Ana Marques Gastão e Guilherme de Oliveira Martins. Nesta mesa redonda, houve algumas linhas conclusivas que foram entafizadas e que merecem ser aqui sinteticamente repostas.
Em primeiro lugar, a tendência para uma desconceptualização da literatura. Tendência observada, quer pela via do “romance de mercado” (um percurso iniciado pela antiga Oficina do Livro), quer ainda pela via de dominantes poético-literárias presas ao quotidiano e desfocadas do que Pound ou Goodman caracterizaram como essência do estético-literário: a densidade do sentido.
Em segundo lugar, foi sublinhada – no caso do romance – a continuação de uma tendência que vinha já dos anos noventa e que se tem pautado pela adaptação do imaginário literário a formas de identidade que deixaram de ser nacionais (ou fechadas). A ‘quête’ pela identidade passou a policentrar-se, refectindo um mundo em que o local é cada vez mais a metáfora de uma desagregação.
António Carlos Cortêz evidenciou uma terceira tendência: o colapso da renovação da linguagem poética levada a cabo por escolas (como aconteceu repetidamente ao longo do século XX). Por outro lado, a afirmação mais individualizada a par da paródia (L. Hutcheon foi citada neste contexto) têm estado a reatar diversas tradições da chamada ‘arte rude’ ligada ao literalismo com raízes nos anos setenta (Joaquim Manuel Magalhães e o grupo Cartuxo) e até mais tarde na década de noventa (caso de Paulo Barriga) do século passado.
Em quarto lugar, não foi esquecido o tema da progressiva dessacralização do literário assim como o fim do “Escritor” como senador do espírito ou espelho privilegiado da comunidade. Ana Marques Gastão, particularmente sensível a esta última temática, realçou ainda o impacto da profusa produção de textos no nosso tempo (do jornalismo à rede) em conjunção com a enunciação literária. Um palimpsesto nem sempre esteticamente rico e estimulante.
Por fim, sob o ponto de vista da mais recente história editorial, Jorge Reis-Sá focou sobretudo a questão da concentração, articulando-a com a resistência das pequenas editoras e com a dificuldade de os livros – não apenas a literatura – chegarem aos pontos de venda.
Guilherme de Oliveira Martins encerrou a sessão. Ficou a certeza de que um novo ciclo de debates irá ter lugar muito em breve. Mais uma vez em cooperação estreita entre o site PNETliteratura e o Centro Nacional de Cultura. Uma boa notícia a iniciar o novo ano de 2012.
Luís Carmelo
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