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Tell a Story tem romantismo e uma missão: pôr os turistas a ler obras de autores portugueses.

03-11-2014
Era uma vez um país nascido com o dom da escrita, um autor que queria contar uma história, um livro que queria ser lido, um turista que não falava Português, e uma livraria que não sabia como ficar sempre no mesmo lugar. Juntaram-se todos. E escreveram uma nova história.
Começa assim (em inglês; a tradução é nossa) a apresentação da Tell a Story no seu website. É uma introdução literária de uma identidade romântica e não deixa de ser um parágrafo com toda a verdade de uma livraria em trânsito que já mereceu destaque, por exemplo, no The Guardian ou no site norte-americano Ozy. Pensada para os turistas que visitam Lisboa, a Tell a Story ganha expressão numa carrinha vintage que abre as portas em ruas e praças para apresentar livros traduzidos em inglês de conhecidos autores portugueses. É uma história que merece ser conhecida e que vai sendo feita por quem tem amor à literatura. Domingos Cruz contou-nos como e do que se faz este projeto.

A Tell a Story (TaS) tem sido referenciada pelo seu carácter singular. O que fascina: uma certa aura romântica, o facto de esta “livraria sobre rodas” ser também, por si, um “objeto” tão literário?
Julgo que o elemento romântico é fundamental no projeto. É um processo absolutamente contraintuitivo; pretende ser o físico contra o digital, o local contra o global. Nasce, vive, respira amor à literatura.

Que autores se enquadram no projeto?
Todos os autores portugueses podem enquadrar-se, sendo certo que o esforço tem sido feito para, por um lado, dar a conhecer os consagrados, autores clássicos, e, por outro, novos autores que são o futuro da nossa literatura.

É a TaS que trata da tradução e da realização de edições limitadas ou trabalha em parceria com alguma editora?
A Tell a Story entrou, este ano, no mundo da edição. Iniciou-se pela venda de edições alheias e está agora a fazer edições próprias. [Como editora] conta neste momento com três obras, estando a iniciar-se o processo de outras três.

À venda e edição de livros, a TaS associa outras atividades, tais como passeios literários por Lisboa. É um complemento ou uma outra oportunidade de diversificação do projeto?
O Walk a Story, é uma das várias vertentes que o projeto pretende ter. A ideia central é dar a conhecer a literatura portuguesa aos estrangeiros, e esse objetivo pode ser conseguido de várias formas.

Têm, também, uma base tipográfica, com fontes de autores. Qual o intuito; como funciona?
É mais uma vez a estética do projeto a falar com o público-alvo. É outra forma de dar a conhecer os autores portugueses, de uma forma original.

Este é um projeto de Lisboa ou há vontade em o levar a outras cidades portuguesas?
Dado que este projeto vive sobretudo da disponibilidade dos seus promotores (e todos eles têm outras profissões), temos evitado, até agora, dar um passo maior do que a perna. Desejo e vontade até pode existir, mas em coerência sabemos que não poderíamos apresentar um bom produto.

Quais são, então, os planos para o futuro?
Neste momento estão a ser trabalhadas novas edições próprias com novos escritores, e está a ser feito um documentário Tell a Story sobre a Literatura Portuguesa, que pretende saber o que pensam os estrangeiros da nossa literatura. Estamos muito entusiasmados com o que temos de gravações até ao momento.

Trabalham para um mercado que será volátil. O turista torna-se o “leitor acidental”, complicado de fidelizar… Ainda assim, tem sido possível obter feedback do vosso público?
De facto, a fidelização é difícil, mas também não a procuramos. Temos experiências únicas, mas intensas. O feedback chega muitas vezes por e-mail. E foi desse feedback que nasceu a ideia do documentário.

Por último, que balanço pode fazer-se?
Sob o ponto de vista da recompensa pessoal, dificilmente poderia pedir mais. A Tell a Story gera sensações positivas nas pessoas, e isso dá-nos uma grande alegria. Permitiu-nos conhecer escritores que admirávamos como leitores, e que vamos passar a editar. Permitiu-nos conhecer inúmeras pessoas de uma riqueza extraordinária. O verdadeiro património que foi e é gerado pelo projeto é exclusivamente humano.
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