Actualizar corresponde, hoje em dia, à ideia iminente de tornar presente todo o mundo à nossa volta. É este desafio de quase permanente ‘antecipação’ que está na base da expressão errática, vacilante, descontínua – e rica – da rede. No nosso tempo, actualizar já não quer dizer ‘fazer passar da potência ao acto’ ou ‘realizar o que é potencial’, mas sim “refrescar”, omnipresentear ou tornar visível todo o ilimitado leque de opções que se processam. Actualizar é virtualizar em cadeia, em cascata, em encadeamento ininterrupto.
A palavra está, pois, a deixar de ser o eco fresco de uma presença, ou o resultado de um jogo de imagens lentas e silenciosas, para passar a ser uma espécie de arrebatamento febril que liga a dupla ‘presença-ausência’ (ou ‘ausência-presença’) a um empenho sôfrego e vital, na medida em que a actualização consiste na ‘tentação’ de um presente que está, a todo o momento, a chegar ao próprio coração do ‘agora-aqui’. Uma pulsão acelerada que se contrapõe, cada vez mais, à exposição histórica das imagens ao nível da parábola ou da metáfora.
Este tempo de arrebatamentos instantanistas derroga aquilo que exprime e exprime aquilo que derroga, tal como escreveu Peter Sloterdijk: “O que é de ontem é incessantemente desactualizado pela sua mobilidade; é a partir do próprio gesto de desactualização que é lançada a nova actualidade, para cair logo no projecto: uma transitoriedade expulsa a outra”. A literatura nasceu, tal como a entendemos ainda hoje, num outro mundo e com horizontes de significação diversos dos actuais. Vai ser interessante, nas próximas décadas, observar o modo como a febre da actualização e a tentação da palavra literária irão pactuar uma com a outra. Adorava viver mais cem anos apenas para seguir de perto a lógica deste pacto!
LC
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