«Se eu disser “chocolate”, “avelãs”,
Laranja, morangos silvestres…
A minha boca é naufrágio de sabores;
Aguada, de apetite aberto,
Pedindo açúcar,
Essências de frutos,
Densidades suaves.
O veludo na língua,
Estar vivo, morder o cio,
Devorando as minhas agonias,
Despertando as minhas vontades.
Se eu disser canela, tomilho, açafrão,
Aos meus olhos chegam cores,
Texturas, odores,
Gritando “terra”, “imensidão”.
Aromas sedutores como laços magenta…
Café, hortelã, mel, framboesa:
Os dentes húmidos, a língua sedenta
E o meu corpo dócil, junto à mesa.
Cereja, jasmim, violeta ou amora…
Alagam-se nos olhos os perfumes da terra.
Rugosas, duras, ásperas ou macias,
A pele no barro, na lenha, na folha, na pedra,
Na polpa mais tenra dos meus melhores dias.
Se é o sol que dá as cores ao mundo,
Se é a água que lhe concede nascimento,
Quero ser luz ou gota de chuva!
Semente ou não mais que rebento!
Será que faço parte do mundo?
Só na consciência de um momento perfeito,
Da minha agonia me torno viúva.»
(in “Fora do Mundo, pág.17, Poética Edições, 2014)
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