Pensemos brevemente na atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan. É um equívoco? É um escândalo? Faço uma declaração de interesses: Bob Dylan foi um dos meus ídolos, num tempo em que os costumes conviviam mal com atitudes de heterodoxia como as que Dylan protagonizava.
À parte isso, convém lembrar duas coisas. Uma: o Nobel foi atribuído à poesia de Bob Dylan, não à sua música; e a poesia de Dylan, certamente indissociável das canções que criou, é, como poesia, autónoma em relação a ela. Outra: a Academia Sueca é muitas vezes acusada de conservadorismo e de procedimentos de institucionalização, não raro associados a inconfessáveis conveniências políticas. Pois bem, por uma vez, a Academia surpreendeu pela positiva, não pela omissão (Jorge Luis Borges é a mais gritante, mas não é a única). E lançou-nos um desafio: tratemos de ler ou reler a poesia de Bob Dylan enquanto poesia e talvez tenhamos algumas surpresas. E sobretudo não fiquemos chocados, pelo facto de essa poesia ser difundida em concertos (como foi), pela rádio, pela televisão e pela internet. Pergunta final, talvez antes de outra reflexão mais alargada: a cultura do século XX seria a mesma sem Bob Dylan? Like a rolling stone, os critérios vão mudando, as instituições acolhem essa mudança e os juízos são relativos e historicamente datados.
Carlos Reis
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