O amor de Bloom é recontado na história como tendo sido um amor passional, tão passional que o pai de Bloom assassina a sua amada e Bloom assassina o seu pai. O amor de Bloom aparece no enredo em narrativa retrospetiva. A memória que vive tão presente em Bloom é uma catapulta para a história daquilo que o herói deixou para trás, mas para onde deseja paradoxalmente voltar. A viagem à Índia constitui a ligação entre um ato e outro, viajando Bloom pela negação de si próprio, pelo medo, pela angústia, pela traição, pelo estranhamento de si. O assassinato do pai é o mote para o crescimento interior do protagonista, que de outra forma, se veria destinado a uma vida feliz e burguesa, estilo de vida criticado pelo narrador “. E tal não é humano. O amor de Bloom é um dos pilares deste romance epopeico e tematiza, por um lado, a mensagem de que o amor vence e é o mais forte da vida – na Carta de S. Paulo aos Coríntios: “restam a fé, a esperança e o amor. Mas o amor é o maior dos três” (cap. 13, versículo 13) – e, por outro, o drama de Ödon von Hórvath que se chama exatamente Glaube, Liebe, Hoffnung, mas que tematiza a vida de uma mulher, também ela vencida por primeiro acreditar, amar, ser traída e mentir, (logo, também cometer um crime moral); esta morre quando a esperança, a última das três, lhe cai por terra.
A ideia de que primeiramente todos os crimes são crimes morais e da ética, e só depois são do domínio da justiça humana perpassa todo o romance. Pode-se ler muitas passagens sob este prisma. Por exemplo, o facto de Bloom cometer justiça pelas próprias mãos matando o pai, e desconhecer nesse ato a dimensão que a traição da sua escala da ética pode acarretar para si próprio, leva-o a percorrer um pathos, que se afigura todo contrário àquilo que teria sido a sua vida anterior ao ato criminoso, e que as suas excursões de memória nos transmitem: Bloom era um homem bom. E no melhor pano cai a nódoa. O seu passado reza a favor da remissão dos seus pecados, independentemente de quais tenham sido. A questão do amor norteia a desculpabilização do protagonista da história, fá-lo humano e íntimo com o leitor, de tal modo que este herói não é condenado pelo leitor, mas perdoado.
Susana Leite
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