Bloom não é um herói divino, nem anti-herói, é um herói humano como tantos outros e luta com a sua própria ética. Luta freudianamente contra o pai, mata-o porque o odiou, pelo menos, e num impulso o suficientemente, mas o pai freudiano que se estende ao estado nacional e aos valores éticos que regem uma vida imperam sobre Bloom, e este regressa a Lisboa porque emocionalmente decide voltar.
Ele não é um simples herói, tem características de anti-herói, de super-herói, mas não é nenhum dos dois. Talvez possa usar a descrição de um hiper-herói para o Bloom, considerando que hiper-herói me aponta para uma personagem que é etérea em relação aos restantes personagens da narrativa e situa-se algo acima do normal; Bloom poderá também ser hiper porque as características dele apontam, como um hiper-link, para um conjunto de critérios e ideias que definem os heróis – comuns, modernos e cosmopolitas.
Bloom traz um tesouro em si: “E há outros, como Bloom, que, ainda antes do início da viagem, são já proprietários de uma temperatura de cidadão de sangue quente: paixões enormes, vinganças, lutas, modos venenosos e santos de entrar na paisagem. Bloom tinha de facto o inventário da existência inteiro: nele, sim, fazia sentido o homem ser dotado dessa faculdade de ouvir e ver para trás a que se chama memória.” (Canto II, 113).
(continua)
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