PINTURA QUASE ABSTRACTA | Domingos da Mota

 

 

 

 

 

 

besouros não trepam no abstrato

Manoel de Barros

Um círculo de fogo: posto
ao centro um buraco negro
de infinito: adentro do buraco

a placenta de mundos paralelos
que se fitam através dos espelhos
da matéria (negra, fria, escura

tal o breu)
entre rectas e curvas e espirais,
algum mar, tanto ar e muito céu,

um quadro gigante sem moldura,
mas com bichos, minerais e vegetais
E no canto esquerdo, bem no cimo

da tela pintada com os olhos,
vê-se um rabo de fora que gatinha
em busca de algum rato (a desoras)

pois um gato não caça no abstracto

Domingos da Mota

De Bolsa de Valores e Outros Poemas, Temas Originais, Lda., Coimbra, 2010

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