Na noite anterior à ução, em sonho, o carrasco viu a sua cabeça rolando pelo chão – e não a do condenado.
E de facto, no momento em que na praça central da cidade levantava o machado para desferi-lo sobre o pescoço daquele, pressentiu um sorriso nos lábios deste mesmo e, pelo sim pelo não, preferiu não arriscar.
Com um gesto sem pingo de espanto, embora fosse a primeira vez que tal sucedia, o imperador ordenou que os dois trocassem de posições. O carrasco, com o pescoço no cepo, pensava como haveria de salvar-se e procurou, também ele, esboçar um sorriso.
António de Sousa
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