A Noite não é Eterna, de Ana Cristina Silva

Este romance abre com a frase: “Na semana antes de o marido lhe levar o filho…” A escolha do verbo não é inocente: levar, não retirar ou raptar. Podia ser levar para um colégio militar ou para uma escola de elite do regime, estamos nas mãos do narrador, entregues aos seus caprichos. Mas o que aconteceu nessa semana? Ficamos condicionados por um presságio, ou ser-nos-á revelado algo que condicionará toda a ação do romance? Deve um autor apiedar-se do leitor?

A ação deste romance decorre numa Roménia dominada por Ceausescu. Uma ditadura que abusa do poder policial de forma arbitrária, a fim de dominar os cidadãos pelo medo, forçá-los a um permanente estado de autovigilância, a abster-se de pensar desconfiados das palavras que lhes habitam as ideias.

Quem falasse com imprudência arriscava a cair em desgraça, arrastando a família consigo. Foi assim no tempo de Ceausescu.

Leia a minha recensão no Acrítico, leituras dispersas.

 

António Ganhão

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