Talvez um dia
talvez haja uma hora de viver
de rosto atravessado de manhãs
e um rosário de rolas desabridas
a gemer doridas
as saudades dos poentes
num colo de maçãs.
talvez seja um dia o respirar do trigo
o nosso abrigo
e meninos de linho
acordem os ninhos
com gorjeios caiados
de beijos por abrir.
quem sabe, um dia
numa outra hora
já sem medos
as mãos despidas
nos tragam os segredos
de um outro Tempo
maior que todo o azul
maior que todo o verde
destes olhos a envelhecer
em sulcos de lonjura.
talvez um dia, obstinada,
a substância do ar
recrie um Tempo
omnipresente e lúcido
salutar e denso
nas flores dos dedos
desalojados de sujeição
e de loucura.
MIF
Retirado do Facebook | Mural de Maria Isabel Fidalgo